Domínio Colateral – Parte 3

Poucos minutos depois de acordar sinto como se não estivesse vivo. É sempre assim. Acordo e olho ao meu redor, desconhecendo o quarto e os objetos que o enfeitam. A claridade sempre me perturbou, mas é ela que me faz acordar no horário correto para trabalhar. Pontualmente às dez da manhã o sol se posiciona em um ponto que mira a minha cabeça. Passados os minutos de adaptação à realidade vou direto para o chuveiro. Não é bem uma fixação excessiva em ficar limpo. O problema é que toda manhã acordo ensopado de suor, já que mal uso o ar condicionado. Assim que saio da ducha quente estaciono de frente para o espelho e observo minha aparência, dessa vez diferente de todos os outros dias anteriores, mais pálida, cansada, abatida. A preocupação da noite anterior estava estampada no meu rosto. Não sei que horas peguei no sono, mas pelas olheiras foi bem tarde. Ignorei a noite anterior e segui para o trabalho após me arrumar.

É incrível como o mundo é diferente do eu enxergava há alguns dias. Depois da minha “mudança” as coisas ficaram mais visíveis, e uma gama de oportunidades surgiu do nada. A natureza, as pessoas, as construções, tudo passou a ter uma nova imagem. Foi como nascer em outro planeta, ou simplesmente me mudar de um país para o outro. As cores são mais intensas, os cheiros são mais suaves e a forma das pessoas caminharem é única. São milhões de novos fatores que até então passavam despercebidos. A energia tem um fluxo único e a natureza é perfeita. Tudo passa a se encaixar e os assuntos que antes importavam agora não fazem a menor diferença. Não importa se houve uma queda na bolsa, ou se uma empresa foi privatizada. Isso não importa mais para mim. Essa busca excessiva por poder capital não enche mais meus olhos. Agora um novo tipo de poder interessa, o poder real, que define vida e morte. Dinheiro nunca foi poder e eu só consigo visualizar isso agora. O poder está na mão dos mais fortes, e agora falo em força física, em predador e caça. Isso é o que realmente importa, isso é o que nos rodeia. O mundo é uma selva onde os grandes esmagam os pequenos, mas na natureza há uma conotação totalmente diferente do mesmo assunto, e nós fazemos parte dela, somos parte da natureza inevitavelmente, e o que nos difere dos animais é esse pensamento capitalista de poder acima de tudo, um poder idealizado, simbolizado por pedaços de papel desenhados. É isso que falta no mundo, uma visão realista das coisas. Até poucas horas eu era apenas parte da massa, e agora sei como tudo funciona e darei valor a isso, e de alguma forma esse meu poder real terá que abrir os olhos do mundo. Esse é provavelmente o meu propósito.

— Bom dia Sr. Arthur — disse a secretária da TT – Gestão de Recursos, empresa que trabalho há quase três anos. Ela me fitou mais que o normal e hesitou um pouco ao dizer: — O senhor está se sentindo bem?

Pude ouvi-la engolir saliva pouco antes e logo depois de fazer a pergunta. O seu coração bateu aceleradamente, e o sangue limpo pelas horas de sono correu mais rápido. É fácil perceber que os funcionários da empresa tem medo de serem demitidos, por isso medem as palavras com qualquer um dos “chefes” ou com o próprio dono. Eu era um dos chefes.

— Estou perfeitamente bem, obrigado — respondi educadamente para não assustá-la ainda mais, e consequentemente criar uma atmosfera favorável a mais um ataque, já que minha fome crescia aos poucos e ela era a vítima perfeita, cheia de medo ao redor de si.

Todas as manhãs começam com uma reunião para se discutir gastos e crescimento de determinadas empresas, assim como uma revisão do dia de trabalho anterior. Normalmente as reuniões não passam de trinta minutos, e acabam com xícaras de café expresso, que estava com um cheiro mais forte que o normal, quase me dando alergia. Recusei-o pela primeira vez depois de anos. Após sorrir para os meus companheiros e apertar algumas mãos, fui para a minha sala, assim como todos os outros. Cada um cuidava de uma empresa diferente, mas nas reuniões tudo era discutido em conjunto.

A janela da minha sala era do tamanho da mesma, tomando todo o pé-direito. Todo o prédio era assim, e cheio de escritórios como o que eu trabalhava, por isso era normal pelo menos um suicídio por ano. Nesse ramo ou se ganha muito dinheiro, ou se perde muito dinheiro, é uma aposta alta. Fora isso, a vista é magnífica, de frente para a praia, onde observo o pôr do sol diariamente. Mas hoje seria diferente. Todos aqueles números me enojavam e a minha fome só aumentava. Até tentei ficar até o final do meu turno, mas não consegui. Três horas após a pausa para almoço arrumei minhas coisas e voltei para o carro.

Não consegui sair do lugar por alguns minutos. Algo dentro de mim queria sair por aí e matar essa sede mortal. Apenas uma vítima por dia não estava sendo suficiente para saciar essa estranha fome. Em contrapartida tinha algo que ainda estava no ritmo do dia anterior, que considerava errado matar, mesmo que para evitar um colapso de abstinência. Mas é algo incompreensível para mim. Pensei que o desejo só faria com que tudo se tornasse mais simples e facilmente adaptável, o que não está acontecendo. Parece que esse “senso de bondade” quer me impedir de ser quem eu sou, ou melhor, de ser quem eu me tornei. Não, eu sou o que eu me tornei. Arthur Marau não existe mais, quem existe agora é o Predador, o dominador, a essência do novo mundo. Eu sei que com esses novos poderes eu posso criar ordem a partir do caos que é esse mundo. É um pensamento até infantil esse de mudar o mundo, de ser radical e achar que a sujeira pode ser limpa da face da Terra. Mas a chave está aí, no pensamento infantil. A mente de uma criança é limpa e vai se poluindo com a corrupção de acordo com o tempo que passa, e mais ainda com as informações que recebe de tudo ao seu redor. Televisão, jornais e pessoas, acabam afetando o desenvolvimento e moldando uma mente inicialmente sem ideologias. O meio acaba dando um rumo para cada um até que novos robôs se formam. Esse é o mundo que eu tenho que mudar, e para isso não pode existir nenhum tipo de arrependimento. A minha ideologia é a correta e não há ninguém que possa mudá-la. Moldá-la para maiores propósitos, quem sabe, mas não alterá-la de rumo.

O cheiro de sangue veio como um soco direto no meu peito. Procurei a fonte por segundos que pareceram anos. O que a entregou foi o medo, o coração batendo forte e o corte do dedo expulsando mais sangue do que deveria. Era a secretária do meu escritório, estranhamente caminhando entre os carros do estacionamento. Não quis saber o que ela, que não tem carro algum, queria lá embaixo. A única coisa que quis saber era qual o gosto teria aquele sangue jovem.

Ela não correu ao me ver se aproximando. Não haveria motivo para correr, afinal eu era um conhecido de anos a quem ela tanto temia, mas não a ponto de fugir ou se esconder. Acredito que ela quis me cumprimentar, mas sua voz foi abafada pela minha mão cobrindo a sua boca, evitando mais uma “boa tarde senhor Arthur”. Foi um movimento rápido como na noite anterior. Ela tentou se debater, mas não conseguiu sair do lugar. As forças da presa são sempre inúteis perto das do seu predador. Uma mordida lenta e o sangue começou a escorrer da sua carótida; o banquete havia começado. Logo no inicio a fome se multiplica assustadoramente e parece que nenhuma quantidade de sangue jamais me fará satisfeito, mas à medida que meu corpo sente a presença de sangue novo, a vontade se reduz aos poucos, até um ponto que não é mais necessário se alimentar. Só que mesmo satisfeito eu sempre quero mais, e continuo até não aguentar uma gota extra. Nesse ponto a vítima já tem a pressão arterial reduzida e não tem mais força alguma para reagir. A única coisa que pode fazer é desabar no chão e aproveitar seus últimos minutos ou segundos de vida. Essa era a melhor parte. A vítima caída diante dos meus pés, submissa ao meu poder.

— Por quê? — ela me perguntou com uma voz fraca. Meu coração batia assustadoramente forte e minha respiração era ofegante. Não consegui responder. — Que Deus te perdoe por isso — dessa vez foi num sussurro quase mudo, e morreu de olhos abertos.

Observei por alguns instantes o corpo da secretária enquanto as suas palavras ecoavam pela minha mente. De alguma forma aquelas palavras me fizeram lembrar aquele outro lado, que me dizia o que era certo e errado, e que isso era errado. Em dois dias matei duas mulheres que estavam fora dos meus objetivos, puramente por fome, sede e por prazer. Todos os pensamentos que invadiram minha mente na noite anterior, e mais cedo pela manhã pareceram vir de encontro com os meus atos. Eu estava sendo completamente hipócrita desde o momento que ganhei esse “poder”. Ao ter a oportunidade de controlar vida e morte de qualquer um ao meu redor, tentei pensar nisso como um dom de mudar o mundo e extirpar a hipocrisia. Mas com o passar dessas horas, acabei agindo exatamente contra tudo que preguei sendo o certo. Fui hipócrita ao ter uma ideologia, mas não segui-la. Matei duas pessoas totalmente fora do padrão que eu mesmo criei. Será esse o meu fardo? Esse “poder” que mais parecia uma dádiva, aparece agora como uma maldição. Mas eu posso mudar isso, eu tenho o controle dele. Eu sou o dono do meu mundo.

Subi a passos largos de volta para o meu escritório e fui direto ao banheiro, limpar as marcas de uma batalha sem vencedores. A partir de agora tudo poderia ser mudado. A única dificuldade seria controlar essa minha sede sanguinária. Mãos e rosto limpos, sem rastros de sangue. Fui para a minha sala e lá fiquei sentado na cadeira enquanto observava o sol se pôr.

Quase uma hora depois, com o horizonte totalmente escuro, a porta se abriu e o meu chefe entrou, o dono da empresa.

— Arthur, terminou as planilhas? — ele me perguntou com sua voz calma e pacífica de sempre. Um bom chefe. A única coisa nele que agora me irritava era ouvir o seu sangue lento assim como sua voz, diferentemente das duas jovens que assassinei nas ultimas horas.

— Quase no fim, senhor.

Ele sorriu e deu as costas para ir embora. Alguma coisa fez com que seu coração batesse mais forte. Talvez ele estivesse preocupado que eu não entregasse a planilha a tempo, para ser apresentada na reunião do dia seguinte. Ele estava certo. Eu não terminaria a planilha. Abriu a porta praticamente em câmera lenta, e aquela foi a maior tortura que ele podia ter feito. O coração acelerado, o sangue correndo rápido pelas veias e a minha fome crescia. Na verdade a fome não era o que me motivava naquele momento, mas sim minha vontade de matar, o prazer que isso me daria. E a cada milésimo de segundo que ele continuava perto de mim, o meu único pensamento era fazer minha terceira vítima. Se eu o matasse agora seria o meu fim. Um prédio como este é cheio de seguranças, e logo a polícia estaria aqui. Creio que não sou à prova de balas, e o melhor é não arriscar.

— Boa noite, Arthur — disse num sussurro, então fechou a porta atrás de si.

Levantei-me um pouco, de frente para a enorme janela de vidro e olhei as luzes dos prédios que ficavam ao redor. Era uma bela cidade à noite. Agora o que tenho é uma certeza, e não apenas uma possibilidade. O poder surge como salvação, mas aquele que o detém é o mesmo que sofre das suas consequências. A única verdadeira salvação para mim era o chão, vinte e sete andares distante.

(Texto Via Tumblr Diogo Santana)

Domínio Colateral – Parte 2

A sujeira parecia maior que qualquer outra jamais experimentada por mim. Sangue nas mãos, no rosto e no peito. A minha vontade era de entrar em uma máquina de lavar e passar horas girando lá dentro, esperando que todo aquele sabão em pó fosse fazer o efeito que é mostrado nos comerciais. Talvez nem um milhão de banhos fosse capaz de me limpar. Eu precisava de uma limpeza na alma, uma lavagem por fora e por dentro. A morte apareceu como um desejo e acabou se tornando um efeito colateral, ou mais de um, uma coletânea de efeitos colaterais. Começou com essa sensação de sujeira que nem dois banhos foram capazes de remover. Minha pele parecia reluzir depois de tanto sabão, e mesmo que o vermelho já tenha saído por completo, a sensação persistia. Um chá de camomila e um suco de maracujá foram a solução inicial, que falhou. Então um calmante me fez sentir melhor.

O segundo efeito foi a febre, mas uma febre leve. Apenas a sensação de frio e o suor excessivo, que ficou até que eu pegasse no sono, o que não foi um caminho curto. Passei horas rolando na cama até abrir os olhos e ver que era dia. Nesse tempo mil coisas passaram na minha cabeça, coisas que eu jamais imaginei que pensaria. Se bem que numa situação como a minha é bem comum pensar em fatores como certo e errado. Isso deve passar na cabeça de um policial ao matar o primeiro criminoso numa perseguição, ou na de um assaltante ao cometer um homicídio culposo, apenas pelos planos não terem dado certo. São fatos inesperados onde a reação é instintiva, assim como foi comigo. Primeiro vem a ação: uma garota perdida e com medo, procurando informações; depois o ato inesperado: um desejo enorme de sangue, súbito e inicialmente insaciável; e por último a reação: um ataque fatal, sem chances de defesa pela vítima, instintivo e selvagem.

Dessa forma já consigo ter uma Idea da causa do assassinato. Agora falta saber as consequências e implicações de tal ato, por isso nada pode ser mal calculado, tudo tem que ser perfeito. A única brecha era um homem de aparentemente quarenta ou cinquenta anos que é testemunha do crime, mas que à essa hora nem deve se lembra mais do que viu. Então aquilo que não foi planejado acabou sendo praticamente perfeito. Uma única testemunha que não seria levada em conta e nenhuma evidência de quem matou a garota. Mas isso é o que menos importa no momento.

A febre que estava tomando conta de mim era um sintoma claro de culpa e de dúvida. A sociedade tanto criticada por mim agora poderia estar superior? Ou é apenas um louco devaneio de febre? Eu tenho esse direito de matar se for para suprir as minhas necessidades? Creio que sim. Uma necessidade é algo incontrolável, mesmo que seja de um bem material que só proporcione status para o seu detentor, o que nesse caso é uma necessidade fútil, mas que no meu é uma linha que separa a vida e a morte. Uma fome insaciável de sangue e morte maior que o prazer proporcionado pela luxúria.

Essa abstinência de algo que nunca tive pode significar uma evolução, quem sabe a criação de algo novo, uma raça nova, o que eu chamo de criatura até agora. Esse novo ser que tomou conta de Arthur Marau pode significar que as leis vigentes não se aplicam a mim. Uma criatura não, um predador seria a palavra correta. Muitos predadores foram extintos, dando lugar a novos predadores. E agora a raça humana cederá lugar para mim, o novo dominador desse mundo. Um ser com todas as habilidades de um ser humano comum, porém elevadas. Força, audição, percepção, velocidade, destreza e frieza fazem de mim algo próximo da perfeição. O fato de matar sem nem pensar nas consequências e criar uma atmosfera sem falhas já é um atestado da perfeição que está crescendo em mim. A frieza de inicialmente inexistente começa a aparecer, dando espaço à certeza de que a próxima morte será ainda melhor, e isso caminhará até que a perfeição seja alcançada.

Não sei o que me fez assim. Sei apenas os motivos que me levam a continuar sendo o que sou. Talvez a visão de um mundo que precisava ser mudado, limpo e refeito, criou em mim esse desejo insano de sangue. Com o passar do tempo as mortes vão ser mais limpas, mais fáceis e mais prazerosas, eu sinto isso. Não demorará muito até que minha consciência esteja completamente limpa e não haja mais corrupção, imoralidade, preconceitos e hipocrisia.

O quarto escuro desapareceu e um novo quarto surgiu, era dia. Foi-se uma noite sem sonhos e horas se passaram até o relógio marcar dez horas da manhã.

(Texto Via Tumblr Diogo Santana)

Domínio Colateral – Parte 1

O sangue escorrendo pelos dedos e pingando ao redor da Quinta Avenida foi o ponto de separação das duas vidas. Anteriormente Arthur Marau, agora não sei mais o que. Aquela visão só podia ser narrada como um terrível homicídio à luz da lua numa rua normalmente movimentada, mas que naquele horário era o local perfeito para um crime de qualquer tipo.

Não sei o que me levou a matar. Talvez aquela sede de sangue súbita tenha sido causada pelo excesso de filmes de vampiro em estreias semanais nos cinemas. Românticos, sanguinários, altamente fantasiosos, como uma enxurrada, fazendo uma lavagem cerebral nos seres humanos. Mas era algo mais, como um desejo que cresceu dentro de mim de uma hora para outra, criando asas e me guiando por um mundo totalmente novo, com novas descobertas. Um aprendizado fantástico, desconsiderando-se o aspecto moral. Se bem que não há moral nenhuma em comparações. Ninguém é perfeito e todos cometem seus erros. Não há julgamento, apenas desrespeito claro e preconceituoso. Essa é a moral de hoje em dia: um conjunto de fatores vistos separadamente, excluindo-se o que se passa ao redor. Porém todos esquecem o que existe fora do seu campo de visão humano. Hipócritas imundos. Talvez seja este o real motivo que me levou a matar: ódio a uma sociedade que prega igualdade enquanto atiça a imoralidade. Que moral há em alguém que vê um mendigo na rua e nada faz para mudar o mundo em que vive? Pessoas assim não tem direito algum para julgar outros crimes. Não há o crime mais leve ou o mais pesado, apenas o crime. Meu crime foi matar uma jovem, mas até que ponto eu estou errado?

Uma porta de bar abriu ao longe. Pude ver uma figura grande, andando com o apoio da parede mais próxima. Parou alguns segundos e depois continuou o percurso que parecia mais um caminhar até a forca. A soma de todos esses detalhes deixava identificado o ser distante. Era um homem de cerca de cinquenta anos, tomado pelo vício do álcool, a caminho da sua aconchegante sala de estar. Mas o que podia ser uma caminhada de dez minutos levaria quatro vezes mais tempo para ser feita, naquele ritmo lento e cansado. Posso arriscar até que dentro de um mês ele sofrerá de derrame ou parada cardíaca, só de ouvir o ritmo dos seus batimentos cardíacos. Veias entupidas, cheias de gordura… Até hesito em fazer a minha segunda vítima. Espero que o desejo de matar seja menor do que a razão. Mas levando em conta a garota pálida no chão, creio que o alcoólatra não viverá a tempo de ter seu primeiro derrame.

Os batimentos ficavam cada vez mais altos e a respiração mais ofegante. Ele ainda não estava perto, mas eu conseguia ouvir nitidamente o sangue percorrendo as veias e artérias da figura longínqua. Creio que ele ainda não percebeu a criatura à frente de si, ou a garota estirada em plena calçada. Sua visão turva pela bebida e limitada pela idade não o permitia saber que cada passo à frente, era um mais próximo da própria cova. Mas por sorte a minha sede escorreu como o sangue da garota e coagulou em algum ponto do meu corpo. O nojo daquele sangue impuro me fez perder o apetite, então era hora de ir. Tive a sensação que o homem petrificou por alguns instantes antes que eu me retirasse da Quinta Avenida. Devia estar em choque, ou nunca havia presenciado um assassinato, ou simplesmente tinha parado pra vomitar o que seu fígado não conseguiu filtrar. E assim, seguiu rumo ao seu derrame.

(Texto Via Tumblr Diogo Santana)